Jornal Diário da Manhã , terça-feira 18 de outubro de 1983
AJUDA EXTERNA – a inflação mundial (que é medida com base no aumento dos preços nos países industrializados) caiu para 4,9% em agosto. Ao ano. Além de provocar inveja, o resultado é uma “ajuda indireta” aos Brasil e outros países às voltas com a inflação galopante, pois significa que os preços dos produtos importados estão subindo pouco, deixando de reforçar a carestia aqui dentro. Outra vantagem: de uma hora para outra, a baixa inflação mundial pode levar à redução dos juros internacionais. Ali, o Brasil economizaria dólares, no pagamento de encargos da dívida externa.
COUVES E CARVALHOS – desde 1974, o Brasil vinha concentrando esforços na ampliação de suas exportações aos países menos desenvolvidos (que são os únicos interessados em comprar seus produtos industrializados, sem mercado nos países ricos). Com a crise da dívida externa, certos ministros passaram a defender maior “aproximação” com os EUA e outros países ricos, o que significa, inclusive, importar mais desses países, como “gesto de amizade”. Resultado: o Brasil importa menos dos países em desenvolvimento. Conseqüentemente, depois da Argentina, agora também a Colômbia, Equador e Senegal suspenderam a importação de produtos brasileiros, como represália.
CORDA NO PESCOÇO – há alguns meses, provocou furor, nos próprios EUA, o lucro gigante conseguido pelo Citibank no Brasil em 1982: ele foi de US$ 150 milhões, representando mais de 50% dos lucros totais do banco. Com um detalhe muito significativo: os empréstimos do Citi no Brasil, em valor, foram dez vezes menores do que nos EUA, o que significa que a margem de lucro no Brasil foi dez vezes maior. Agora, segundo levantamento do jornal “Gazeta Mercantil”, os bancos estrangeiros voltaram a ter lucros estrondosos no mercado brasileiro, no primeiro semestre de 83. O Citibank volta a liderar a lista, com lucros de Cr$ 17 bilhões, ou 78% sobre um patrimônio de Cr$ 39,7 bilhões. Em um semestre.
BOICOTE VITORIOSO – preocupados com a retração do consumidor, os próprios açougueiros do ABC paulista decidiram boicotar a venda de carne, e deixaram de comprar o produto, para forçar os frigoríficos a reduzirem os preços. Depois de uma semana de boicote, veio a vitória no último domingo, com um acordo pelo qual os frigoríficos baratearão a carne.