Uma iniciativa com objetivos políticos

Os argumentos econômicos, aparentemente lógicos, do prefeito Salim Curiati, não conseguem esconder as reais intenções do projeto de criação de um "banco municipal". Estão ai os inquéritos da Caixa Econômica Estadual e as denúncias contra o Banespa, para demonstrar que as incursões do poder público na área financeira apresentam o risco de colocarem as instituições estatais a serviço de interesses políticos, ou politiqueiros, e não dos interesses da coletividade e do próprio Estado.

Além desse pecado básico, a iniciativa do prefeito põe à mostra outro vício de comportamento de homens que hoje detêm o poder, a saber, a falta de coerência, o oportunismo.

O sr. Salim Curiati ascendeu ao posto em que está por obra e graça e como integrante de uma facção político-empresarial ligada à Federação do Comércio e à Associação Comercial de São Paulo, com posições "privatizantes" radicais, atuando na linha de frente da campanha contra a "estatização da economia brasileira". Um grupo de posições tão marcantes que foi dele que partiu, em 1979, a proposta oficial de extinção do monopólio estatal do petróleo, cabendo a um de seus expoentes, o ex-governador Paulo Maluf, criar a Paulipetro com o objetivo confesso de abalar aquele monopólio. Mal se vê no poder, o sr. Salim Curiati surge com uma proposta estatizante — deixando no ar as perguntas: o projeto é seu, mesmo, ou de seu grupo? Como foi que os estudos amadureceram em tão pouco tempo? Alguém está usando a mão do gato, no episódio? A.B.