Jornal Diário da Manhã , domingo 21 de agosto de 1983
PARA ONDE VAI O DINHEIRO – o sr. Hermann Wey, diretor do Banco Central para a área do mercado de capitais, em entrevista à Folha de São Paulo, confessou que em maio do ano passado ele mandou suspender a fiscalização na Coroa Brastel, que emitiu letras de câmbio frias e provocou um “rombo” de Cr$ 250 bilhões, a ser pago por Investidores e pelo Tesouro.
Explicação inacreditável do sr. Wey: os fiscais verificaram que a escrita (contabilidade) da Coroa Brastel apresentava irregularidades e a instituição pediu um prazo de 90 dias para colocá-la em ordem. Ele, candidamente, retirou os fiscais – em lugar de colocar, imediatamente, auditores dentro da Coroa. Depois disso, o sr. Wey – é ele mesmo quem confessa – nunca mais se lembrou de mandar a fiscalização de volta à Coroa. Em resumo: por omissão ou conivência, o Banco Central permitiu o derrame de letras frias da Brastel.
Retrato do País – Ah, sim: o sr. Wey disse também que “é normal” retirar os fiscais de instituições financeiras em situação irregular, para que elas corrijam as distorções. Assim como, no caso Delfim, outras instituições já tinham realizado vendas de imóveis, ao BNH, com base no “valor potencial”.
INFLAÇÃO DESNECESSÁRIA – a inflação de agosto deve ficar nos 9%, contra 13,3% de julho, segundo os dados já levantados pelo governo. A queda só não será maior por causa da soja, que subiu nada menos de 60% no mês, puxando o preço do óleo e do farelo (que por sua vez encarece os ovos, o frango, o boi, via rações). Desculpa para essas altas: os preços internacionais. Só que os preços internos estão mais altos que lá fora. Providências de Brasília? Nenhuma.
PARA ONDE VAI O DINHEIRO – a alta dos preços da soja, em julho, não trouxe grandes lucros aos produtores, que já haviam vendido de 92 a 95% de suas safras. Ganharam e estão ganhando: indústrias, intermediários, além de corretores e especuladores das bolsas (que já funcionam no Brasil). Em tempo: para estimular o crescimento dessas bolsas no Brasil, o governo baixou um decreto, no ano passado, perdoando o Imposto de Renda sobre os lucros dos especuladores.