Para salário, Simonsen é um mau conselheiro

Analistas econômicos e políticos "quebraram a cabeça" tentando explicar, no começo deste ano, a súbita inclusão do ex-ministro Mário Henrique Simonsen no Conselho Superior de Economia da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo- órgão destinado a acompanhar a política econômica do País e apresentar propostas ao governo nessa área. Em algumas versões, a participação de Simonsen se deveria à sua projeção como teórico e como homem público, ex-ocupante de cargos de mando no País -, o que acabaria dando grande autoridade às sugestões e críticas eventualmente formuladas pela Fiesp em relação à política econômica. Um trabalho endossado por Simonsen, em outras palavras, ganharia respeitabilidade, adquiriria uma dimensão maior: não pareceria pura e simplesmente o ponto de vista de uma entidade empresarial, baseado em interesses empresariais. E, sim, uma "verdade" confirmada pelo consagrado ex-ministro, deixando-se de lado o pequeno detalhe de que ele próprio não é um mero "professor", mas sim um banqueiro e membro da direção do Citicorp Internacional (ex-City Bank), aliás, com amplo sucesso: o Citicorp já destacou em seus relatórios que seus maiores lucros provém das operações realizadas no Brasil. Há uma área, porém, em que o ex-ministro Simonsen, seja como teórico ou como homem público, não pode desempenhar o papel de "avalista" para a Fiesp, e essa área é exatamente a política salarial. Afinal, ele foi o "pai" da fórmula de reajustes salariais que prevaleceu até o governo Geisel. E, em depoimento ao Congresso, Simonsen admitiu que ela havia prejudicado o trabalhador por um "pequeno" erro de concepção: no lugar de uma multiplicação entre determinados índices, adotou-se uma adição, isto é, em vez de multiplicar, a fórmula mandava somar. Coisas que acontecem durante anos, persistiu o erro, que, se não afeta a imagem de competência do ex-ministro, coloca dúvidas quanto à sua respeitabilidade quando se trata de salários.