Jornal Diário Popular , dezembro de 1999
Suponha que você e seus parentes resolvam montar uma lanchonete. Graças ao tempero dos sanduíches, “segredo” da família , conseguem tanto sucesso que em pouco tempo já abriram cinco, seis, vinte lanchonetes em diversos bairros. Obviamente, não poderão tomar conta de todas as unidades e precisarão controlar gerentes para elas. Suponha agora que alguns desses gerentes vendam as lanchonetes, não só com preços terrivelmente baixos, como ainda “emprestem” dinheiro da empresa aos compradores a juros incrivelmente ridículos, e também façam dívidas para pagar demissões de funcionários, ou para reformar e ampliar as lojas pouco antes de sua venda. Um absurdo, já que um gerente não pode vender o que não lhe pertence, certo? Que atitude você tomaria diante de uma situação dessas? Certamente, processaria o gerente, recorreria à Justiça.
No entanto, é isso que vem acontecendo com as “privatizações” em São Paulo e em todo o Brasil: tanto o governador Mário Covas como o presidente Fernando Henrique Cardoso são apenas “gerentes” da coisa pública, isto é, “contratados” para administrar o patrimônio e os negócios que pertencem a toda a coletividade, a todos os paulistas. No entanto, tal como os gerentes desonestos, eles vêm agindo como se fossem os donos de tudo, dilapidando o patrimônio de bilhões de reais construído no longo de décadas ou séculos com o dinheiro dos contribuintes paulistas. Há poucos dias, eles anunciaram transferência do Banespa ao governo federal, assinando um acordo a “toque de caixa”, na surdinha, em condições que só um gerente desonesto tem coragem de aceitar; pura e simplesmente, o governador Covas abriu mão de qualquer ágio que venha a ser pago no leilão, mesmo que ele seja de bilhões de reais (ágio, como você sabe, é aquela diferença entre o preço mínimo pedido pelo governo e o preço oferecido pelo “comprador”).
Quando o acordo foi anunciado, esta coluna advertiu que “havia gato na tuba”, isto é, que toda a pressa e as condições sem-vergonha forçosamente estavam encobrindo alguma manobra condenável. A hipótese foi confirmada durante a semana, com a divulgação, pelo jornal O Estado de São Paulo, das condições aceitas pelo presidente FHC para renegociar o acordo com o Fundo Monetário Internacional. Não deu outra: o FMI exigiu que o Banespa seja estatizado até junho do próximo ano. O governo FHC assumiu o compromisso e, para isso, precisou da cumplicidade do governo Mário Covas, que consumou a transferência do Banespa para o governo federal.
O povo brasileiro está dormindo. Os gerentes desonestos, como FHC e Covas, estão “torrando” todo o patrimônio dos cidadãos, em cumplicidade com o FMI e governo e multinacionais de países ricos. Quando acordar, o povo brasileiro vai descobrir que este foi um dos períodos mais negros da história do País, com o assalto aos bens públicos levado a pontos nunca vistos. Aí, será tarde. Reação, já.