Jornal Folha de S.Paulo , quarta-feira 24 de janeiro de 1996
A igualdade de condições para que os agentes econômicos concretizem seus projetos e os desenvolvam é um pressuposto da economia liberal. Menos em se tratando do Brasil. Aqui, mantêm-se privilégios e distribuem-se prejuízos.
Em artigo publicado por esta Folha, o jornalista Aloysio Biondi mostrou o nível escandaloso das vantagens que alguns empreendedores têm junto aos governos _federal e estaduais_ se comparado ao dos brasileiros comuns.
O BNDES emprestou, por exemplo, US$ 250 milhões a uma empresa privada em dificuldades. Valendo as condições de pagamento _US$ 100 milhões no ano 2000 e US$ 150 milhões em 2013_, tal empréstimo configura, para dizer o mínimo, um estranho privilégio.
O acordo do Banespa é outro exemplo da generosidade do governo federal para com alguns parceiros. Sobre uma dívida de R$ 7,5 bilhões serão cobrados do governo paulista juros de 6% anuais, enquanto o Tesouro _o contribuinte_ capta esses recursos pagando taxas hoje na casa dos 35% ao ano.
Como aponta Biondi, somando os R$ 7 bilhões da troca das dívidas dos agricultores com os bancos, os R$ 2 bilhões para as dívidas estatais do Banco do Brasil, mais R$ 2 bilhões de dívidas da Marinha Mercante para com os bancos, sem falar nos R$ 5,6 bilhões gastos na compra do Nacional pelo Unibanco, tem-se um festival de gastos. Festa para poucos e desastre para milhões de contribuintes.
Ao adotar medidas que têm tudo de privilégios e nada de filosofia liberal o governo contribui para que o país afunde no atraso.