Roubalheira é motivo para uma CPI?

Alguns bilhões de reais foram furtados dos cidadãos brasileiros, classe média e povão, pelos bancos que administram os fundos 157, criados para aplicar dinheiro, ’’tirado’’ do Imposto de Renda, na negociação com ações nas Bolsas.

Qual o tamanho do furto?

Pode ter sido de 100%, 500%, 3.000%, conforme o ano em que o dinheiro foi aplicado, entregue ao fundo.

No caso de um advogado paulista, que recorreu à Justiça, o banco quer pagar, por aplicação de dinheiro feita em 1970, pouco menos de R$ 150. O advogado pediu que especialistas fizessem os cálculos sobre o dinheiro que deveria receber após aqueles 25 anos.

Pasme com o resultado: se o fundo rendesse apenas correção monetária, isto é, acompanhasse a inflação, o valor chegaria a R$ 4.750 _isto é, 32 vezes o valor de R$ 150 anunciado.

Na verdade, como os fundos 157 aplicam em ações, o ideal seria que sua valorização seguisse de perto a das Bolsas, no período. Nesse caso, o valor seria nada menos que 212 vezes maior, isto é, nada menos que R$ 312 mil. Uma pequena fortuna, longe dos tostões de R$ 150.

A ’’roubalheira’’ dos fundos 157 somente foi possível com a conivência, e cooperação mesmo, do Banco Central _e ministros da área econômica do governo.

Tem mais: essa conivência e cooperação estão presentes em outros assaltos contra a classe média e o povão, e na sociedade em geral, cometidos pelo sistema financeiro.

Fundos mútuos de investimentos, fundos de commodities, fundo de renda fixa, Bolsa de Mercadorias e Futuros são, todas essas áreas, marcadas por distorções que envolvem bilhões e bilhões de reais _desviados diretamente do bolso do investidor, ou, mais cedo ou mais tarde, do patrimônio de toda a sociedade. Prova-se.

Fundos 157 - 1 Uma das causas alegadas para a ’’evaporação’’ do dinheiro dos cidadãos aplicado nos fundos 157: cobrança de uma ’’taxa de administração’’ de até 30% ao ano.

Quer dizer: se o fundo, aplicando em ações, lucrar 35% no final do ano, uma fatia de 30% (do valor total do dinheiro no fundo, e não do lucro) é devorada pelo banco que administra o fundo. O investidor fica com 5%.

Fundos 157 - 2 Quando os fundos 157 foram criados, o Ministério da Fazenda e o Banco Central estabeleceram limites para a ’’taxa de administração’’. Por que o BC liberou ou aumentou para até 30% o limite de cobrança?

Fundos 157 - 3 Sempre houve, ainda, uma forma fraudulenta de reduzir os lucros dos investidores dos fundos, desviando-os (furtando-os) para os bancos, suas corretoras e, claro, grandes clientes. O mecanismo é simples: empurrar ações ’’podres’’ para os fundos, e ’’confiscar’’ as ações.

Fundos 157 - 4 Como essa manobra (’’troca de chumbo’’ é feita)? Por exemplo, sabia-se, nos últimos meses, que as ações da Telebrás iriam subir, porque o reajuste das tarifas telefônicas aumentaria os lucros da empresa. Nesses casos (previsão de alta), o fundo ’’vende’’ ao banco as ações que tem em carteira. O banco lucra com a alta.

E vice-versa: se há previsões de uma empresa entrar em concordata, por exemplo, o banco vende as ações que tem ao fundo. Quando as cotações caem, o prejuízo é do fundo. Isto é, do investidor.

Outras aplicações

O relatório das investigações sobre a ’’quebra’’ do Econômico, em trechos divulgados pela Gazeta Mercantil há uns dois meses, mostra como bancos podem manipular os ’’fundos de commodities’’, causando-lhes prejuízos.

Também no caso dos fundos de renda fixa, divulgou-se que o Nacional cobrava taxa de administração de 1,66% ao mês _restando de ’’ganho’’ para o investidor menos de 0,4% ao mês...

Tudo mostra a conivência de governos e Banco Central com desmandos do mercado financeiro. Mas o Congresso continua a evitar a instalação de CPI. Saudade dos ’’caras pintadas’’.