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  A máxi é um artifício desnecessário e danoso

Jornal Folha de S.Paulo , quinta-feira 10 de fevereiro de 1983


A “máxi?? é necessária, ou é um escândalo como o de 1979?

Redução dos juros – Diz o banqueiro Simonsen que eles só cairão com a “máxi”, porque aí as empresas perderão o medo de tomar empréstimos ao exterior, e será possível baixar os juros internos. Basta abrir os jornais para verificar que as taxas de juros no Brasil estão na casa dos 250% a 350% ao ano, muito acima dos 140%/ 150% ao ano pagos nos financiamentos externos. Nem o medo de máxidesvalorizações impediria, portanto, as empresas de tomarem empréstimos externos, 100 ou 200 pontos mais baratos. Por que elas não tomam? O banqueiro Simonsen já se esqueceu – e a Fiep também - do esquema anunciado no ano passado para canalizar recursos externos às médias empresas,submetidas àquelas taxas de juros de 250% a 350% ao ano? Esqueceram, ou é muito conveniente ao banqueiro Simonsen e companheiros, e aos seus sócios na “ciranda financeira”, que haja uma máxidesvalorização neste momento?

O estímulo às exportações - Vivia-se afirmando, em 1982, que a “máxi” era necessária porque o dólar estava valorizado em relação a outras moedas dos países ricos e (como o cruzeiro acompanha o dólar), com isso, as exportações brasileiras não tinham poder de competir nos mercados externos com os produtos daqueles países. Acontece que o dólar está em franco declínio no mercado mundial, desde dezembro. Só em relação a isso, ele se desvalorizou em 20%.

O exportador brasileiro já “ganhou” este estímulo, essa “máxi” indireta. Ganhou um crédito-prêmio de IPI, de 11%. Ganhou uma desvalorização cambial extra de 12,7%, até o final de 1983, com quedas do cruzeiro sempre superiores – em 1 ponto percentual - à inflação do mês. Ganhou, no ano passado, o prêmio indireto de 7%, correspondente à inflação mundial (a desvalorização do cruzeiro, em 82, deveria ter sido igual à inflação interna menos a inflação mundial, mas esse desconto não foi feito). Tudo somado, os exportadores já ganharam “estímulos”, vantagens superiores, mesmo, à pretendida “máxi” de 40%, que se vier será outra grande mamata às custas da economia do país.

Em tempo, além de todas estas vantagens novas, o exportador continua a gozar da mamata de pagar juros médios de 40% ao ano, contra a inflação de mais de 100% ao ano. O Tesouro, o País, pagam a diferença.

O país deveria estar discutindo a crise, o desemprego, a melhor divisão dos sacrifícios que os ajustes exigidos pelo problema da dívida externa trarão. Suas elites continuam a pensar nos lucros. Às custas do país.



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