Jornal Folha de S.Paulo , domingo 20 de outubro de 1996
Pois é: a Previdência arrecadou 20% a mais neste ano, até setembro, estourando as previsões _e apesar do avanço do desemprego, isto é, com menos trabalhadores pagando contribuições. Pois é: o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, igualmente dependente do nível de emprego, bateu recordes de arrecadação no mês passado. Da mesma forma que o governo de São Paulo voltou a recolher R$ 1,4 bilhão em ICMS em setembro, repetindo o resultado de agosto. Isto é, apesar da recessão, um aumento de quase 50% (cinqüenta por cento, mesmo) sobre os R$ 950 milhões de igual mês de 1995.
Da mesma forma que as empresas estatais do setor de telecomunicações e energia elétrica apresentam lucros substanciais, após longo período de prejuízos _provocados pelo achatamento de tarifas imposto por equipes econômicas de plantão.
Por que todas essas notícias otimistas são praticamente escondidas, quando deveriam ser alardeadas pelo governo FHC e governadores? A resposta é simples. Todos esses resultados mostram à larga que a sociedade brasileira tem sido vítima de uma enxurrada de mentiras nos últimos anos sobre a impossibilidade de recuperar a Previdência, a falta de dinheiro e a "falência" da União, Estados e suas estatais.
Comprovam que a sociedade brasileira está sendo vítima de verdadeira "lavagem cerebral", baseada em dados falsos, para ser levada a aceitar "reformas" que em última análise abrem as portas para uma política de privatização a toque de caixa. E a pressa está sendo utilizada para entregar o patrimônio coletivo (isto é, de todos nós) a poucos grupos. A preço de banana.
Enquanto os resultados positivos são escondidos, a equipe FHC/BNDES continua a alardear pretensos "rombos" do Tesouro, dos Estados e das estatais. Pior: anuncia novo "pacote" que nada mais é que novo avanço na operação de "desmonte" do Estado, e furto de direitos adquiridos do funcionalismo, aposentados, cidadãos em geral.
Na semana passada, o governo mexicano anunciou a suspensão da venda das empresas petroquímicas estatais. Motivo: reação do Congresso, pressionado pela opinião pública. Por quê? Por causa da descoberta de fraudes, "negociatas" na privatização de outras estatais nos últimos anos. Empresários confessaram subornos de centenas de milhões de dólares. Principal acusado: o irmão do presidente da República.
O governo FHC continua a reinar, com o uso de medidas provisórias. Foi assim com o novo "pacote" para beneficiar os bancos. A pretexto de reorganizar o sistema de empréstimos para a casa própria. Foi assim com o novo "pacote", a pretexto de combater o pretenso rombo do Tesouro.
Em junho, o senador José Sarney chegou a anunciar que iria acelerar a votação do projeto que disciplina o uso de medidas provisórias.
A arrecadação da Previdência, do FGTS, de São Paulo e outros Estados cresceu _apesar da recessão_ por dois motivos: aumento da fiscalização e, principalmente, modernização e informatização para controlar e evitar a sonegação. Prova de que os governos não estão "quebrados". A falta de dinheiro tem sido fruto do "desmonte" da fiscalização, incentivos e vantagens a grupos de interesse.
Os resultados positivos vistos acima mostram que as reformas e a política de privatização devem ser reanalisadas de alto a baixo pelo Congresso. Quando necessárias, devem ser implantadas dentro de padrões que atendam aos interesses de toda a sociedade. Não, de grupos. Os mesmos de sempre.