Dieese lembra outros custos

O ex-ministro Mário Henrique Simonsen tem bagagem teórica suficiente para saber que o crescimento do desemprego, no País, se deve à política econômica adotada pelo governo, e não, como declarou à imprensa, à política salarial. Concordo com ele, diz Walter Barelli, diretor técnico do Dieese, quando afirma que a rotatividade de mão-de-obra cresceu após a implantação da política salarial. Ainda aqui, porém, a culpa não é da política em si, e sim da atitude das empresas que não assumem aumento da participação da mão-de-obra na renda nacional, e opondo-se aos efeitos redistributivistas da lei.

Os balanços que vêm sendo divulgados estão mostrando, com enorme clareza, que as empresas vêm conseguindo reduzir a participação da folha de salários no seu faturamento total. Em outras palavras, as empresas vêm conseguindo reajustar seus preços em um ritmo superior ao reajuste dos salários, através da rotatividade.

Barelli lembra ainda que os próprios empresários têm alertado contra o peso crescente de outros custos, como é o caso dos juros, sobre suas operações. Somados os dois fatores, vai ficando comprovado que a política salarial não tem nenhuma responsabilidade na inflação – outra afirmação do ex-ministro Simonsen, “repetindo críticas nunca comprovadas de outros adversários da política salarial”.

O dirigente do órgão de assessoria aos sindicatos trabalhistas chama a atenção para uma coincidência: o ataque do ex-ministro Simonsen, que hoje integra o Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias de São Paulo, surge após um longo período de “calmaria” nas críticas à política salarial.

“Sem nenhuma surpresa, diz Barelli, ele é publicado exatamente no dia em que começam as negociações entre empresários e sindicatos metalúrgicos do interior, exatamente a campanha salarial mais importante de todo o primeiro semestre. Não há motivos para duvidar, afirma Barelli, que se trata de uma tentativa de pressão sobre os trabalhadores”.