Faltou dizer

O ACHATAMENTO – já não há mais dúvidas: o decreto 2.064 abandonou mesmo a sistemática de cálculo dos reajustas salariais; agora, para cada faixa há um índice de INPC “reduzido” (à exceção da faixa até três salários mínimos, com 100% do INPC). Assim, na faixa de dez salários mínimos, o reajuste será de apenas 77% do INPC; na faixa de 20 a 21, de 56%; para 30 a 31 salários, 38% e para 39 a 40 salários, 30% do INPC. Achatamento violento, e agora sim, “esmagamento” da classe média.

FRACO CONSOLO – a rápida queda na inflação passa a ser, assim do maior interesse da classe média – porque quanto maior a taxa inflacionária, maior o seu prejuízo. Para uma inflação de 60% no semestre, reajustes de só 50% do INPC, por exemplo, representam uma perda de poder aquisitivo de 30 pontos percentuais. Para uma inflação de 40% no semestre, obviamente a perda será de 20% (na mesma faixa de reajustes de 50% do INPC), e assim sucessivamente. Mais do que nunca, a classe média vai ter de organizar-se contra a carestia, aderindo a boicotes contra produtos caros, dando preferência a quem vende mais barato etc. O que nem vai depender da “vontade de agir”. Será uma necessidade de sobrevivência.

TRISTE CONSOLO – o governo resolveu, ainda, corrigir em só 100% os valores da tabela do Imposto de Renda para 1984. Isto significa, por exemplo, que os gastos com escola dos filhos (lançados na declaração para reduzir a renda líquida e portanto o Imposto), somente poderão representar em 1983 (na declaração de 1984) o dobro dos gastos realizados em 1982. Da mesma forma, os abatimentos com dependentes – e assim por diante. Como a inflação neste ano estará na casa dos 200%, a maioria das despesas do contribuinte terá aumentado numa proporção equivalente a esse nível – mas as “reduções”, na declaração do IR, somente subirão 100%. Conseqüência: a renda líquida parecerá maior do que foi verdadeiramente, tudo se passando como se o Imposto de Renda tivesse sido aumentado. Única “colher de chá” dada pelo governo: o abatimento dos gastos com aluguéis ou juros na compra da casa própria foi reajustado em 200%, passando de Cr$ 250.000,00 na declaração de 1983 para Cr$ 750.000,00. Em 1984.